segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Carta aos Valentes - 5 anos


Querid@s Valentes,

Estamos prestes a completar 5 anos, no dia 22/11/2010. São muitos anos, para nós que ainda somos jovens e ao mesmo tempo parece que passaram como 5 dias. Eram 3 jovens de uma denominação que tinham um sonho, e hoje são dezenas de jovens de várias denominações que também sonham e trabalham para colocar este sonho em prática. Jesus trouxe uma palavra de libertação aos oprimidos de sua época e hoje na nossa época, nós somos os responsáveis por continuar o que Jesus começou a fazer há quase 2 mil anos.

Creio que amadurecemos em muitos pontos, e em outros ainda precisamos amadurecer. Quando começamos, acreditávamos que entregar pão com mortadela, iogurte e panfletos era o suficiente para suprir a necessidade das pessoas que estavam nas ruas. Com o tempo vimos quais eram suas reais necessidades e passamos a registrar os eventos com fotos, vídeos e até reportagens para a mídia, com o objetivo de divulgar o projeto a fim de captar mais recursos e assim, conseguirmos vagas em casas de recuperação. Vimos muita coisa nas madrugadas:

- Pessoas que se recuperaram e depois voltaram para as drogas;
- Pessoas que nós encontrávamos todas as semanas mas não queriam sair das ruas e depois eram encontradas mortas, em função do tráfico de drogas;
- Pessoas que eram espancadas covardemente por policiais durante a madrugada, somente pelo fato de estarem nas ruas (inclusive crianças, grávidas e idosos)
- Quando não eram espancadas por policiais, eram espancadas por traficantes que cobravam a dívida da "pedra".
- Pessoas que, graças a Deus, conseguiram retornar ao convívio familiar após serem internadas em Clínicas de Recuperação, e hoje tem uma nova vida, trabalhando e longe das drogas.

Aprendemos que o índice de recuperação do usuário de crack é muito muito baixo, enquanto o índice de recaída é altíssimo e que não era por competência ou incompetência nossa que as pessoas se recuperavam ou morriam. Nós dávamos uma ajuda, e cada decidia o que faria com o auxílio que estavam recebendo. Vimos que a Igreja Evangélica está praticamente parada, no sentido de recuperar vidas ou tentar mudar a realidade da sociedade em que vivemos e isso por muitas vezes nos deixou angustiado, pois queríamos fazer, mudar, recuperar, conseguir vagas, doações, roupas, alimentos e as pessoas diziam assim: "Calma, você ainda é muito novo, não pode mudar o mundo sozinho. Essas coisas sempre existiram e sempre vão existir. O que devemos fazer é orar e jejuar, pois deus sabe de todas as coisas."

Quantas vezes ouvi coisas semelhantes a esta e fiquei indignado... Indignado com o mundo, com o sistema, com a religião, com a hipocrisia...

Essa indignação foi convertida em vontade de transformar a realidade a nossa volta e por isso continuamos ocupando os espaços nas igrejas evangélicas, nos partidos políticos, nos movimentos sociais e onde for possível. Não saímos das instituições porque acreditamos que elas são instrumentos poderosos para alcançarmos mais pessoas e assim sermos "Agentes Influenciadores", plantando a sementinha da revolução, a sementinha da indignação, a sementinha do AMOR. Cada vez que nos chamam para falar sobre os valentes em algum evento ou igreja, temos a oportunidade de bater na hipocrisia e anunciar que o resumo do evangelho é o AMOR.

Hoje, aprendi a conviver com os pentecostais tradicionais, com os pentecostais renovados, com os neopentecostais, com os maranatas, adventistas, batistas e presbiterianos unidos ou do Brasil, missões, ateus, ex evangélicos, católicos, espíritas, agnósticos, enfim... Nenhum desses citados anteriormente é dono da verdade, mais certo ou menos errado. Lógico que não concordo com muitos pontos teológicos e doutrinários de muitas religiões, pois tenho minhas convicções pessoais construídas ao longo da minha trajetória pessoal, mas todos devem ser respeitados e devemos nos unir naquilo em que concordamos e expandir o Reino de Deus na Terra.

Cabe então, a nós continuarmos nessa força, com o mesmo objetivo inicial, aperfeiçoando as ferramentas e sempre crendo que aquilo que nos une é maior do que aquilo que poderia nos dividir.

abraços,


Gustavo De Biase

Nenhum comentário: